terça-feira, 24 de julho de 2007

E AGORA, MARTA?

por Fábio Rabello

Eu poderia muito bem intitular este artigo, com letras bem grandes e negras, de “Relaxa e Goza”. Mas não. Não cairei na armadilha. Não me sujeitarei a ser mais um veículo de divulgação da citação petista que, hoje, virou clichê. Abomino lugar-comum.

A filosofia de vida da ministra do turismo já deve estar inserida, inclusive, em algum livro de auto-ajuda. Criticá-la partindo de tal citação causaria, portanto, o mesmo efeito que a indignação mostrada pela população diante do desastre aéreo da última terça-feira, em Congonhas. Ou seja: nenhum! Indignação também já se tornou clichê e, como se vê na prática todos os dias, nada resolve. Quanto mais nos indignamos, mais o PT relaxa. Quanto mais o criticamos, mais ele goza de nossa cara.

Apesar disso tudo, uma única suposta e ideológica situação me faria recorrer aos intelectuais dizeres de Marta Suplício, o “Relaxa e Goza”. Se a ministra estivesse a bordo do Airbus da Tam, na última terça-feira, eu faria do clichê o título deste artigo: “Relaxa e Goza”, eu escreveria lá em cima. Depois, recortaria o jornal cuidadosamente e o enviaria ao presidente da República. Lugar-comum? Aposto que não. A partir daí a citação teria peso tão grande e devastador que, citá-la ou publicá-la em qualquer meio de comunicação, implicaria minha deportação do Brasil. Bom seria, pois, sem saber, Lula me concederia um grande presente.

E agora, Marta? Colocar em prática sua tão humana citação mais uma vez ajuda? Será que ela trará um conforto mínimo aos parentes e amigos das mais de duzentas vítimas do desastre? Venha a público e profira tão bela e respeitosa citação novamente, então. O peixe morre pela boca, mas é muito bom quando o peixe que morre não é o nosso! Se eu fosse Marta Suplicy, simularia um mal-estar súbito e sumiria daqui. Talvez tentaria a vida organizando grupos Hare Krishna em algum país do Oriente. Certamente existirá algum membro incompetente da seita que me acolherá. Pensando bem, se eu fosse Marta, teria medo de viajar de avião até algum país oriental. Restaria-me, então, rapar a cabeça aqui mesmo porque, ainda que nenhum hare krishna me aceitasse no país, pelo menos bem disfarçado eu estaria.

E agora, Marta? O PT vai relaxar mais uma vez e apoiar a desativação de Congonhas? Não haverá mais um único acidente aéreo sequer se banirmos todos os aeroportos do país, a começar por Congonhas. O braço está doendo? Corte o braço fora! Mas tenha cuidado para não cortar o braço errado.

E agora, Lula? Qual será a metáfora futebolística usada no próximo discurso que mais se aproxima do desastre aéreo da Tam? A Copa do Mundo de 98?

E agora, Marta? E agora, Lula? Será que é melhor ficar de bico fechado para evitar que alguém se lembre que a maioria das vítimas daquele avião votou no PT? Que a escolha era um tanto perigosa quase todos previam. Mas imaginar que custaria as suas vidas, certamente não.



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